sábado, 7 de setembro de 2013

Brasil sai perdendo se Dilma cancelar viagem aos Estados Unidos em outubro, dizem especialistas

Recepção com honrarias de chefe de estado fica ameaçada com denúncia de espionagem




Presentes no G20, na Rússia, Dilma e Obama sentaram-se lado a lado
05.09.2013/PABLO MARTINEZ MONSIVAIS / POOL / AFP




Faltando pouco mais de um mês para a visita de gala da presidente brasileira Dilma Rousseff aos Estados Unidos, a relação entre os dois países estremeceu após as denúncias de que a mandatária foi espionada pelo governo norte-americano. Ainda que a postura do Itamaraty seja a de esperar as explicações formais de Washington, dentro do ministério circula a possibilidade de cancelamento da visita. Mas caso isso ocorra, o Brasil sairá perdendo, dizem analistas.

Na história recente brasileira, a última visita de Estado do Brasil aos Estados Unidos aconteceu em 1995, com Fernando Henrique Cardoso. Dilma recebeu um convite que sequer foi conquistado por seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Por isso, desistir da viagem pode custar caro para a mandatária, avalia Pedro Costa Júnior, professor de relações internacionais das Faculdades Rio Branco.



— Se ela não for, vai ser muito problemático. Não é conveniente ter algum tipo de confrontamento com os Estados Unidos, uma vez que são o principal país e, junto com a China, são nossos principais parceiros comerciais.



Segundo assessores próximos à presidente, Dilma ficou furiosa ao saber da espionagem. O País cobrou dos Estados Unidos um pedido de explicações formal, por escrito. Mas se a viagem aos EUA depender dessa resposta, o Brasil pode ficar de mãos vazias, já que as prioridades de Obama, no momento, são outras, diz Geraldo Zahran, professor de relações internacionais da PUC-SP e coordenador do Opeu (Observatório Político dos Estados Unidos).



— O nível de tensão entre as duas partes aumentou significativamente. Mas, nesse momento, os EUA não estão muito preocupados com a situação brasileira, por conta das tensões na Síria e da relação com a Rússia [por causa do asilo ao ex-consultor Edward Snowden]. Cancelar essa visita pode ser uma resposta muito dramática da Presidência brasileira.



O mal-estar entre os dois países foi alimentado nesta quinta-feira (5), quando o Planalto confirmou que cancelou a ida aos EUA, no próximo sábado (7), de uma equipe brasileira que faria os preparativos da viagem oficial da presidente. Além disso, o governo não confirma se a equipe agendará nova data para a viagem, o que reforça a ameaça de um cancelamento da visita em outubro.



Apesar dos rumores, Zahran acredita que a presidente vai cumprir a visita, e considera correto o cancelamento da comitiva.



— Não acho que ela vá chegar ao ponto de cancelar a visita de outubro, mas a sinalização de que existe esse risco, por meio da viagem da comitiva, é correta porque mostra que o problema é sério e que o governo espera uma resposta à altura.
Na opinião de Costa Júnior, mesmo com as declarações de indignação com a espionagem, a recepção de Dilma por Obama em outubro está mantida.



— Acredito que ela vai viajar. Esse jogo diplomático tem muita retórica agora. Ela vai ficar brava, porque isso foi grave, sobretudo porque envolveu uma chefe de Estado, e não se pode aceitar tudo. Essa retórica é muito válida na diplomacia, mas não é bem assim no mundo real.
O cientista político e professor de Relações Internacionais da ESPM Heni Ozi Cukier, por outro lado, não acredita que haja perdas com o cancelamento.



— A viagem representa bom relacionamento, boa convivência e aproximação. O cancelamento em si não tem nenhuma implicação maior, seria algo simbólico, para mostrar “estou irritada, as nossas relações não vão avançar conforme a gente achava”. Mas, do ponto de vista prático, o cancelamento tem resultado praticamente nulo. Os Estados Unidos não dependem do Brasil.



Pouco depois do cancelamento da comitiva, um assessor da Casa Branca disse que Obama deverá explicar pessoalmente a Dilma "a natureza dos esforços de inteligência" dos EUA.



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