
MPF/AM expede recomendação para cessar incitação à violência e discurso de preconceito contra indígenas em Humaitá

27.12.2013 - Sedes e bens de órgãos públicos federais
ligados aos povos indígenas foram depredados por manifestantes, que
seguem divulgando mensagens de cunho preconceituoso e racista
O Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM) recomendou a
retirada de publicações já feitas e abstenção de novas mensagens no
Facebook, portais de notícia outros veículos de imprensa da região dos
municípios de Humaitá, Manicoré e Apuí, no sul do Amazonas, que
contenham informações com conteúdo discriminatório, preconceituoso ou
que incitem a violência, o ódio e o racismo contra os povos indígenas da
região, em especial o povo Tenharim. De acordo com o documento, os
autores devem retirar todo o conteúdo já publicado em 24 horas.
No documento,
o MPF pede ainda aos organizadores e subscritores do manifesto de
moradores de Santo Antônio do Matupi, distrito do município de Manicoré,
que retirem o material de circulação e não promovam novas manifestações
preconceituosas e discriminatórias contra o povo indígena Tenharim. No
texto do manifesto, reproduzido em notícia do site Racismo Ambiental, há
quatro reivindicações, dentre elas a de que os subscritores não querem
mais nenhuma etnia indígena estudando nas escolas da comunidade e querem
o afastamento das aldeias da margem da rodovia Transamazônica “para que
não haja mais contato com a comunidade”.
Desde o último dia 25 de dezembro, a cidade de Humaitá vive dias de
instabilidade por conta de protestos violentos que já resultaram na
depredação de prédios e bens públicos de órgãos e autarquias federais
relacionados a políticas públicas voltadas aos povos indígenas, além de
ameaças a um grupo de indígenas que estava na cidade para tratamento de
saúde. Os manifestos estariam relacionados ao suposto desaparecimento de
três pessoas na área da terra indígena Tenharim Marmelos, cortada pela
rodovia Transamazônica (BR-230).
Na recomendação, o MPF/AM destaca que praticar, induzir ou incitar a
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
nacionalidade é crime pela legislação brasileira e pode ser punido com
prisão de um a três anos. Caso sejam utilizados meios de comunicação ou
quaisquer outros tipos de publicação para difundir mensagens de ódio, a
pena pode chegar a cinco anos. Como parte do inquérito já instaurado
pela Polícia Federal para investigar o caso, o MPF/AM vai solicitar que
seja investigada também a prática de incitação à violência contra os
indígenas.
Discurso de ódio – Diante do grande volume de
publicações de portais de notícia locais e comentários pessoais com
conteúdo preconceituoso e racista na rede social Facebook, o MPF/AM
também recomendou à empresa responsável pela rede no Brasil que exclua
publicações e comentários com discurso de ódio contra os povos
indígenas, especialmente contra o povo Tenharim. O MPF se baseou no
termo de direitos e responsabilidades da própria rede social, que diz:
“Você não publicará conteúdo que: contenha discurso de ódio, seja
ameaçador ou pornográfico; incite violência; ou contenha nudez ou
violência gráfica ou desnecessária”.
De acordo com a recomendação, os portais de notícia, veículos de
imprensa escrita e emissoras de rádio e televisão do sul do Amazonas
devem divulgar amplamente o conteúdo da recomendação e da espaço para
manifestação aos povos indígenas sempre que forem relatados fatos que os
mencionem. Nas rádios, o documento deve ser divulgado ao longo da
programação dos próximos cinco dias, entre 6h e 20h.
O documento será encaminhado ao Estado do Amazonas, aos
representantes do Executivo e aos membros do Poder Legislativo dos três
municípios para conhecimento e divulgação à população local. Todos os
órgãos públicos municipais, estaduais e federais da região também
receberão cópias da recomendação para afixar em local visível e de fácil
acesso em suas sedes. Tendo em vista as características da logística na
região amazônica, o MPF/AM também pediu apoio à Polícia Federal,
Exército e Polícia Militar do Amazonas para que ajudem a levar o
documento até seus destinatários, principalmente aos moradores do
distrito de Santo Antônio do Matupi, que fica localizado no quilômetro
180 da rodovia Transamazônica.
Assessoria de Comunicação
Procuradoria da República no Amazonas
(92) 2129-4743 / 4661
ascom@pram.mpf.gov.br
twitter.com/MPF_AM
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